Pós-Graduação forma primeiro aluno com deficiência visual. “Quando comecei a estudar aqui, me senti em casa”, diz o concluinte.

A apresentação de Trabalhos de Conclusão de Curso é rotineira em uma instituição como o Campus Natal – Zona Leste do IFRN. No dia 09 de abril, porém, os professores da banca examinadora acompanharam uma apresentação histórica: a aprovação do TCC do primeiro aluno da pós-graduação com deficiência visual.

O protagonista deste momento foi Bruno Lima de Brito, de 31 anos, concluinte do Curso de Especialização em Tecnologias Educacionais e Educação a Distância – e, entre tantos temas de TCC, ele escolheu um que faz parte da sua rotina: a inclusão de uma estudante do curso de Licenciatura em Espanhol que também é deficiente visual. Após a avaliação, a banca aprovou o trabalho com a nota 85, tornando-o o primeiro aluno com deficiência visual a finalizar um curso de pós-graduação no Campus.

Bruno Lima de Brito acompanhado pela banca examinadora.
Audiodescrição: Na imagem, Bruno Lima de Brito está ao lado das três professoras que compuseram a banca examinadora.

A professora Thalita Cunha Motta, orientadora de Bruno durante o período de desenvolvimento de seu trabalho, comentou que o jovem sempre foi um aluno dedicado. Apesar de sua limitação visual, ele nunca deixou de participar dos eventos presenciais ou a distância. Com o auxílio do computador, Bruno escreve seus próprios trabalhos, além de criar seus slides para as apresentações.

O primeiro contato com a audiodescrição

Bruno Lima de Brito foi o primeiro deficiente visual a defender o TCC na pós-graduação
Audiodescrição: Ao fundo, uma parede bege. Nela, o slide com a área de trabalho do computador. À esquerda, na imagem, Bruno Lima de Brito.

Bruno já nasceu com a deficiência visual. Durante a vida acadêmica, ele passou por dificuldades tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio, por causa da falta de acessibilidade dos livros em papel. Sem a facilidade dos softwares disponibilizados nos computadores, ele sempre precisou do auxílio da família para a execução de tarefas. Mas as dificuldades não o fizeram recuar nos estudos: em 2012, ele concluiu o curso de Licenciatura em Geografia na modalidade presencial, contando com a ajuda dos professores, que falavam para ele como eram as imagens dos livros e apostilas.

Quando começou a estudar a pós-graduação no Campus Natal – Zona Leste, porém, essa dificuldade foi amenizada, porque ele se deparou, pela primeira vez, com material didático adaptado para as suas necessidades, com um sistema de audiodescrição que o permite ter compreensão das imagens, vídeos e gráficos por meio de áudios auxiliares. “Quando comecei a estudar aqui, eu me senti em casa. No tempo em que eu fazia ensino médio, por exemplo, a gente só tinha o sistema braile como recurso. Hoje, a gente tem o sistema braile, tem a possibilidade de usar o computador, de fazer um curso EaD… Isso favorece bastante a inclusão da pessoa cega”, comenta.

Sobre Bruno

Casado, Bruno leva uma vida normal na companhia da esposa e dos pais. Hoje, está presente em eventos que discutem a acessibilidade e os desafios para uma pessoa com deficiência visual. Bruno quer quebrar paradigmas sociais e romper a ideia de que um cego não pode ir ao cinema ou ao teatro, colocando o seu posicionamento como prova de que a sua limitação não o impede de ser feliz.