Abril Indígena: debate sobre os povos originários é promovido pelo NEABI/ZL
O evento contou com a participação de representantes indígenas externos e servidores do Campus, para falar da participação dos povos originários na sociedade brasileira.
25 de abril de 2025
O Campus Natal – Zona Leste do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN/ZL) promoveu na tarde desta quarta-feira (23) o Abril Indígena. A atividade aconteceu de forma híbrida e contou com a presença do engenheiro-agrônomo e indígena Jairã da Silva Santos Sampaio; do professor do IFRN de Ceará-Mirim, Dayveson Noberto, e Nairá Farias, pedagoga do IFRN/ZL.
O Abril Indígena 2025 é mais do que uma programação acadêmica, é um espaço de diálogo, de reconhecimento e de fortalecimento dos laços entre o IFRN e as comunidades indígenas, contando com a organização do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI/ZL). Todo o encontro foi transmitido ao vivo no canal do YouTube do Campus, podendo ser assistido aqui.
Nairá Farias, do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE) do IFRN/ZL, que é natural do Acre e descendente de povos indígenas por parte de mãe, usou este espaço para comentar as suas vivências. Ela morou com os indígenas dos 8 aos 15 anos, quando morou na floresta com a família dela.
“Foi uma experiência muito visceral. A gente buscava água nos rios, vivenciamos todo o processo de como os indígenas viviam, no qual muitos ficaram amigos do meu pai e tive contato com a cultura,sendo que em 2005 criamos um folguedo chamado Jabuti-Bumbá”, relembrou.
Jairã Sampaio é integrante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (ABIP) e membro da comunidade de Tingui-Botó, que existe há 130 anos de Feira Grande (AL). Ele comentou que debater, sobre os povos originários, não é somente enfatizar o passado, mas também comentar as ações recentes dos indígenas do século XXI.
O alagoano enfatizou que nasceu no período da Constituição de 1988, no tempo em que os seus descendentes lutaram para serem reconhecidos como brasileiros e terem suas terras reconhecidas por direito. Hoje, a nova geração, assim como ele, está acessando cada vez mais as instituições de ensino superior, debatendo assuntos que ainda persistem há quase 40 anos.
“Precisamos dialogar sobre o que há de atual para a sociedade nas nossas vivências coletivas.”, esclareceu o morador de Tingui-Botó, uma reserva indígena com 540 hectares de área demarcada e que abriga mais de 500 pessoas no interior de Alagoas.
Jairã ainda complementou que “os estudos acerca dos povos indígenas precisam ser debatidos tanto nas instituições como também, na prática, mediante ações nas reservas”.
No Rio Grande do Norte
De acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são mais de 11 mil indígenas no estado potiguar, com nove municípios concentrando 80% da população indígena.
O docente do IFRN de Ceará-Mirim, Dayveson Noberto, por sua vez, é professor de língua portuguesa e participou do encontro para comentar o projeto de letramento que desenvolveu na comunidade do Amarelão, na Zona Rural de João Câmara, durante o mestrado.
“O projeto tinha como propósito construir um projeto de letramento em uma turma de 4º ano, considerando a realidade local. Achei interessante que quando o pesquisador chega no local de pesquisa, mesmo vindo com sua bagagem de conhecimento, ele também é um aprendiz. A gente aprende muito com esta troca de conhecimento.”, disse o docente.
O professor precisou rever ideias do seu estudo enquanto fazia o seu trabalho de mestrado e, sendo assim, acredita que é importante pesquisar as teorias e estudos dos povos originários para poder compreender as comunidades. Além disso, esta é uma forma de reivindicar espaço para os indígenas poderem se tornar pesquisadores.
“Precisa atualizar os currículos acadêmicos de alguns cursos, no qual a maioria utiliza pensadores que não refletem a realidade de grupos minoritários”, explicou.
Sobre o NEABI
O NEABI é o grupo de trabalho e estudo permanente responsável por desenvolver e fomentar ações afirmativas no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão, com foco na igualdade e na proteção dos direitos de pessoas e grupos étnicos minoritários.
O objetivo do NEABI é ser o ponto de partida para discussões e orientações sobre uma educação pautada na diversidade cultural nos cursos de educação básica, técnica e superior, promovendo ações e protegendo os direitos de etnias que sofrem com práticas discriminatórias.
Uma das ações é, portanto, a criação de eventos e projetos para debater a participação pública de grupos minoritários.
Origem do Dia dos Povos Indígenas
No dia 2 de junho de 1943, foi publicado o Decreto-Lei 5.540, que instituiu a data de 19 de abril como o “Dia do Índio”. Assim, a celebração da data que dá visibilidade às culturas, tradições e lutas dos povos indígenas se estendeu para todo o mês de abril. Em 2022, a Lei 14.402 alterou o nome para “Dia dos Povos Indígenas”, revogando o Decreto-Lei 5.540.
Já a proposta do Abril Indígena está alinhada à Lei nº 11.645/2008, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena no currículo das escolas públicas e privadas da educação básica.