IFRN – Zona Leste: Ilane Ferreira Cavalcante lança obra e traz reflexões sobre o processo criativo de uma poetisa e professora

Ilane Ferreira, recentemente lançou seu segundo livro de poemas, “Paisagens Impróprias”, 15 anos após sua primeira obra.

Escritora Ilane Cavalcante com o seu mais novo livro (Foto: Caroline Vitorino)

A professora de Língua Portuguesa do Campus Avançado Natal – Zona Leste, do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Ilane Ferreira, recentemente lançou seu segundo livro de poemas, “Paisagens Impróprias”, 15 anos após sua primeira obra. O livro mostra o lado da poetisa e também da professora em atuação há 18 anos, cuja trajetória literária e educacional oferece uma perspectiva única sobre o processo criativo e o papel da poesia na formação do pensamento crítico.

A autora revela que seu processo de escrita é lento e reflexivo, uma jornada que exige paciência e cuidado. A escolha das palavras e a construção dos poemas são feitas de maneira gradual, muitas vezes com longos períodos de revisão e aprimoramento. “Eu gosto de trabalhar os poemas e deixá-los guardados nas gavetas, voltar, retrabalhar”, contou ela, destacando a importância do distanciamento temporal e da revisão constante. Esse processo minucioso reflete a exigência de sua formação como professora de Língua e Literatura. 

“Eu imponho uma certa crítica muito forte sobre a minha produção. Então, é uma coisa que demora para estruturar também o livro”, explicou. Para ela, a escrita é mais do que um impulso criativo; é um trabalho de lapidação, onde o poema deve ganhar uma forma que ultrapasse a experiência individual e toque algo universal no leitor.

Ilane descreve seu trabalho como uma “ourivesaria” do texto, um processo de refinamento onde cada palavra e cada metáfora têm um propósito claro. “Acho que precisa desse trabalho, do pensamento, do raciocínio, da racionalização daquele sentimento para que ele deixe de pertencer só a você pessoalmente e alguém que lê também consiga sentir”, afirmou. 

Ela também explicou o contraste entre os seus dois livros, que marcam diferentes momentos de sua carreira. O primeiro, lançado em 2009, surgiu de um processo mais artesanal e íntimo, com a colaboração de um amigo, o dono do Sebo Vermelho, Abimael, que a incentivou a publicar. “O primeiro livro foi praticamente um presente de um amigo, que se ofereceu para publicar o livro. Então, foi uma coisa muito artesanal”, disse.

Na época, a autora tinha mais insegurança em relação ao que iria compartilhar com o público, o que a levou a escolher apenas alguns poemas para integrar a obra. Já em 2024, ao lançar seu segundo livro, Paisagens Impróprias, a autora buscou uma abordagem mais profissional, procurando a editora Patuá, em São Paulo, para dar ao trabalho uma visão mais distanciada e objetiva. “Foi uma coisa mais profissional”, afirmou, mencionando que o processo de publicação foi mais ágil e organizado. Contudo, ela destacou que, apesar da mudança no formato e na estrutura do processo editorial, não houve uma diferença significativa no conteúdo dos dois livros.

“Não tem poemas com recortes temporais mais novos ou mais velhos”, afirmou, deixando claro que a escrita permanece uma constante em sua jornada criativa.

O livro Paisagens Impróprias foi o resultado de uma necessidade de concluir uma obra que já estava pronta há algum tempo, mas que ainda não havia sido finalizada. “Esse segundo livro saiu porque eu estava sendo muito cobrada, principalmente pelos amigos e amigas, que sabiam que eu já tinha material suficiente pronto”, revelou. 

“Paisagens” refere-se a diferentes olhares sobre o mundo ao seu redor, sejam esses olhares mais objetivos ou subjetivos. Impróprias é a forma que ela encontrou para descrever essas visões que, embora partam de experiências e sentimentos pessoais, vão além do simples registro de paisagens físicas para explorar sensações e impressões mais complexas sobre o tempo, o espaço e as relações humanas. 

A obra é dividida em cinco “estações”, que simbolizam diferentes momentos e perspectivas da autora sobre o mundo, alternando entre o concreto e o abstrato, entre o exterior e o interior.

Essa relação com a poesia se estendeu à sua profissão como professora de Língua e Literatura, onde ela acredita que a poesia tem um papel fundamental, independentemente do conteúdo abordado. 

“Geralmente, eu parto usando uma metáfora em qualquer conteúdo que eu vou trabalhar, principalmente em aulas mais expositivas, em exposições dialogadas. Mesmo na pós-graduação, sempre levo um texto de literatura, faço alguma atividade para a gente começar a refletir sobre aquilo que o texto traz e a realidade sobre a qual a gente precisa discutir, se debruçar naquele conteúdo”, explicou. 

Por fim, ao ser questionada sobre como a poesia se relaciona com sua carreira acadêmica, a autora refletiu sobre o papel da docência em sua vida. “Eu não sei. Na verdade, eu acho que eu nunca quis ser professora quando eu era criança”, confessou. Crescendo em uma família de educadores, no entanto, ao escolher Letras, ela encontrou uma conexão profunda entre sua vocação para o ensino e seu amor pela poesia. “Creio que o fato de eu ter escolhido letras é que foi o gatilho inconsciente da poesia mandando na minha profissão”, finalizou Ilane.