Ensinar para incluir: IFRN/ZL lança material didático sobre Transtorno do Espectro Autista (TEA)
O livro faz parte da produção de um curso aberto voltado para o conhecimento do TEA e já está disponível gratuitamente.
15 de outubro de 2024
Contribuindo para uma educação inclusiva e acessível, o Campus Avançado Natal – Zona Leste do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN/ZL) lançou o livro “TEA: curso aberto sobre transtorno do espectro autista”. Elaborado pela professora do curso de especialização em Educação Inclusiva, Thalita C. Motta, pela psicóloga Elaine Macedo e pela psicopedagoga do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (NAPNE), Ângela Nairá de Farias, a obra teve a produção feita pela Diretoria de Educação a Distância e Tecnologias Educacionais (DEAD) da instituição.
O livro é resultado de um curso aberto desenvolvido pelo instituto, com o objetivo de ampliar o conhecimento acerca das características do autismo. Ele está disponível gratuitamente no Memoria, repositório do IFRN, através do link: https://memoria.ifrn.edu.br/handle/1044/2672
A ideia
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 milhões de pessoas no planeta possuem Transtorno do Espectro Autista. Uma pesquisa recém-divulgada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) revelou que, nos Estados Unidos da América (EUA), uma a cada 36 crianças do país com menos de oito anos tem autismo. Na população adulta, esse número ultrapassa 5 milhões. No Brasil, os dados mais recentes sobre TEA são de 2010 e estimam uma população de 2 milhões de pessoas com autismo.
A escassez de dados, a necessidade de ampliar e difundir o assunto no meio acadêmico do IFRN/ZL, bem como o anseio em contribuir para a formação de outros profissionais da educação e familiares acerca do autismo, foram importantes para a construção do material didático. O desejo de ampliar a inclusão de pessoas com deficiências na sociedade sempre esteve presente na professora Thalita C. Motta. No entanto, essa semente só começou a germinar em 2016, quando assumiu a coordenação do NAPNE/ZL e recebeu as primeiras estudantes que ingressaram a partir de cotas para pessoas com deficiência, necessitando de alguma adaptação no contexto da educação a distância (EaD).
“Na educação a distância, a gente precisa ter materiais específicos e uma preparação tanto do ambiente virtual de aprendizagem quanto dos professores para atender esses estudantes com deficiência. E, para cada tipo de deficiência, a gente precisa ter conhecimento de quais são as necessidades daquele público”, disse Thalita.
Reconhecendo as especificidades de cada diversidade funcional e sabendo da importância de promover adaptações para os estudantes que necessitam, a professora percebeu, enquanto conversava com a intérprete de Libras do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, Márcia de França, o crescimento do número de estudantes diagnosticados com autismo e a falta de amparo que esse público ainda possuía.
De projeto a curso
O próximo passo é que o material didático, desenvolvido em um projeto de extensão, se torne um curso aberto de introdução ao assunto, com fundamentos científicos expostos em uma linguagem objetiva, inclusiva e acessível ao público acadêmico e externo. O programa contará com videoaulas gravadas, que já estão sendo produzidas, e com o “TEA: curso aberto sobre Transtorno do Espectro Autista”, material didático no qual as aulas serão baseadas.
A formação está dividida em três módulos: o primeiro é destinado ao contexto histórico e teórico sobre o Transtorno do Espectro Autista. O segundo explica as definições e implicações do autismo no desenvolvimento humano. E, por fim, o terceiro capítulo expõe as diretrizes, direitos e cuidados necessários para com essas pessoas.
“Acho que é um processo em que o IFRN está caminhando para avançar nesse atendimento de pessoas com TEA. Nós já temos muitos estudantes com essa característica nos vários campi, mas a gente ainda precisa ter um maior aprofundamento para garantir um atendimento de qualidade”, disse Thalita.
Atuação da DEAD/ZL na produção do material
Sobre o processo de produção do material didático, Thalita C. Motta afirma que a Diretoria de Educação a Distância e Tecnologias Educacionais do campus “foi muito importante para a qualidade da produção do material” e esteve presente em todas as fases do seu desenvolvimento, envolvendo a revisão, diagramação e identidade visual do projeto.
O diretor de Educação a Distância e Tecnologias Educacionais do IFRN/ZL, Wagner de Oliveira, explica a importância da integração da diretoria com as autoras nesse processo: “a produção do livro sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é fundamental para conscientizar a sociedade, promovendo inclusão e o combate ao preconceito, além de garantir que os direitos das pessoas com TEA, assegurados por leis como a Lei Berenice Piana, sejam amplamente conhecidos e respeitados. Para a Diretoria de Educação a Distância e Tecnologias Educacionais (DEAD), esse material fortalece o compromisso com a educação inclusiva e o uso de tecnologias para democratizar o acesso a informações, assegurando que mais pessoas, especialmente em contextos de EaD, tenham recursos educacionais acessíveis e adaptados às suas necessidades”.
Sobre o TEA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma neurodivergência caracterizada pela alteração nas funções do neurodesenvolvimento. Por ser um espectro, pode se manifestar em diversos níveis, que variam do nível 1 ao 3. Nos primeiros nivelamentos, o paciente pode ter a menor necessidade de apoio. Já no terceiro estágio, as pessoas podem necessitar de um maior auxílio quanto às interações sociais e tarefas diárias.
O autismo foi incluído na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde somente em 1993. Essa consideração tardia ocorreu devido à dificuldade em se obter precisão no diagnóstico dos pacientes, o que contribui para o pouco conhecimento que se tem sobre a síndrome até hoje. Há muitos estudos sobre a causa genética do autismo; no entanto, atualmente, nenhum exame genético consegue ser eficiente na hora de diagnosticar esse transtorno. Por isso, o diagnóstico ainda é realizado através da observação do paciente, levando em consideração sintomas como dificuldade na comunicação e comportamentos repetitivos.
Em dezembro de 2012, alguns dos direitos dos autistas passaram a ser assegurados pela lei 12.764, chamada de “Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista”. A lei reconhece que os portadores de TEA têm os mesmos direitos que todos os outros pacientes com necessidades especiais no Brasil. Entre outros aspectos, a legislação garante que os autistas possam frequentar escolas regulares e, se necessário, solicitar acompanhamento nesses locais.